quarta-feira, 30 de outubro de 2013

• "Quem se Importa" - o filme

“Várias vezes ouvimos a frase “quem se Importa?”.
O sentimento de indiferença é algo muito triste.
E a apatia e a ignorância são as nossas piores inimigas.

Muitas vezes acreditamos que o mundo é assim mesmo.
Que os problemas são grandes demais.
Será que ainda somos capazes de nos importar?”
- Mara Mourão, realizadora do filme "Quem se Importa"

Estas são as frases basilares com que se dá início à narração do documentário "Quem se Importa”*, a que o autor deste blog assistiu, numa iniciativa de divulgação deste filme patrocinada em Portugal pela Fundação EDP. 

Nas palavras promocionais desta mesma instituição a propósito deste filme sobre empreendedorismo social… 

“QUEM SE IMPORTA” É MAIS DO QUE UM FILME.
É UM MOVIMENTO!

Um movimento que inspira as pessoas a TRANSFORMAREM O MUNDO. Um filme que nos ensina QUE TUDO É POSSÍVEL.

A Fundação EDP alerta: o visionamento deste filme poderá causar sérios efeitos secundários como: a vontade de iniciar um projeto,
de desenvolver uma solução há muito na gaveta, o vício de fazer o bem e de contribuir para um mundo melhor!

Para ler uma sinopse sobre este filme, clicar aqui. Quanto ao papel deste blog, reconhecemos que deveríamos prestar um serviço público: o de divulgar o filme, para quem ainda não o viu, despertando a curiosidade sobre este. E para quem já o terá visto, fazer também uma breve resenha. Que consistirá de duas partes.

A primeira será a lista dos dezoito empreendedores sociais que foram visados neste filme (sic) cujas ideias visionárias já transformaram milhões de vidas. E das organizações que estes fundaram, com links para os seus respectivos websites. Sendo esses links uns para a sua homepage e outros directamente para o perfil do empreendedor social no website da organização.

E a lista é, para quem interessar possa:

  • Al Etmanski – Plan, Canadá (construção de redes de afecto para deficientes)
  • Bart Weedjens – Apopo, Tanzânia (treinar ratos para salvar vidas)
  • Bill Drayton – Ashoka, EUA (apoio a empreendedores sociais à escala global)
  • Dener Giovanini - Renctas, Brasil (combate ao tráfico de animais)
  • Eugênio Scanavino, Saúde e Alegria, Brasil (saúde e desenvolvimento integrado na Amazónia)
  • Isaac Durojayie - DMT Mobile Toillets, Nigéria (WC’s públicos móveis para sem-abrigo com retorno para viúvas)
  • Jehane Noujaim - Pangea Day, EUA (videoconferência à escala global em 2008 para visionamento de filmes que promovem a cultura da cooperação e da paz)
  • Joaquim Melo – Banco Palmas, Brasil (economia solidária com base na criação de moeda local)
  • Joaquín Leguía – Ania, Perú (atribuição de lotes de terra a crianças e jovens para preservação)
  • John Mighton - Jump, Canadá (auto-estima e desenvolvimento através da matemática)
  • Karen Tse – International Bridges for Justice, Suíça (acesso à justiça)
  • Mary Gordon – Roots of Empathy, Canadá (combate ao bullying nas escolas)
  • Muhammad Yunus – Grameen Bank, Bangladesh (o “pai” do microcrédito)
  • Oscar Rivas – Sobrevivencia, Paraguai (envolvimento de comunidades na preservação dos rios)
  • Premal Shah – KIVA, EUA (acesso ao micro-financiamento de pequenos empreendedores)
  • Rodrigo Baggio – CDI, Brasil (inclusão digital)
  • Vera Cordeiro – Saúde Criança, Brasil (promoção da auto-sustentabilidade das famílias de crianças em risco)
  • Wellington Nogueira - Doutores da Alegria, Brasil (Doutores Palhaços nas pediatrias dos hospitais)

E a segunda parte é outra lista. É a enumeração das frases, ideias e pensamentos ditas por alguns destes empreendedores sociais que mais ficaram marcadas no espírito do autor deste blog. As que maior eco fizeram em mim. Das diferentes visões que este filme pode provocar em cada um de nós, esta lista é um indicador da minha sensibilidade pessoal. 

E estas ditas frases, ideias e pensamentos são:

“Toda a gente acaba pensando um dia que o mundo está num período difícil hoje. O custo de vida está sempre a subir. Acontecem guerras e conflitos pelo mundo inteiro. Talvez tenha havido uma perda de fé nas lideranças. E quem sabe na integridade dessas lideranças. Há muita coisa ruim a acontecer neste momento. Mas vamos pensar no que está a acontecer de bom também. (…) E através duma consciência crescente, as pessoas querem fundamentalmente ver um mundo melhor. E nós aprendemos que conflitos e apego ao passado e a muitos confortos a que damos valor não são tão importantes assim e podem ser postos de lado.”
- Premal Shah

“Nós não estamos aqui para curtir a vida como se alguém tivesse criado o mundo e nós fossemos apenas convidados. Nós não somos convidados aqui. Somos criadores das nossas próprias vidas, do nosso próprio mundo. Mas antes de criar o nosso mundo, nós devemos imaginar que mundo queremos. E então começar a criá-lo.”
- Muhammad Yunus

“Quando ser cidadão e ser empreendedor social se tornar uma e a mesma coisa, aí se terá atingido o apogeu da revolução democrática.”
- Bill Drayton

“Eu acho que a pobreza pode ser eliminada do mundo inteiro. Porque a pobreza não faz parte da sociedade humana. É algo que foi criado, que não é natural. E o que é artificial pode sempre ser eliminado.”
- Muhammad Yunus

“Se nós pudéssemos ler os diários secretos dos nossos piores inimigos iríamos encontrar nestes dor e tristeza suficientes para remover toda a hostilidade.”
- Jehane Noujaim

“Não pergunte o que é que o mundo precisa. Pergunte a si mesmo o que te faz sentir vivo. Porque o que o mundo precisa é de cada vez mais pessoas que se sintam vivas.”
- Premal Shah

O autor deste blog é um elemento mais da população activa de Portugal que se encontra circunstancialmente inactivo. No desemprego. Que há quem diga que deve ser visto como uma oportunidade. 

Não apreciando particularmente frases feitas que podem redundar em falácias, tenho de admitir que esta da oportunidade no desemprego me seduz um pouco. Como pode ser bem compreensível, quero mais do que arranjar um dia um novo emprego que me permita sobreviver. 

Quero encontrar um sentido maior para o resto da minha existência.

Só que não sei ainda qual. Mas sei que, ao invés de voltar a ser só mais uma peça na engrenagem que conduz esta humanidade para o abismo, seria desejável que eu pudesse ser antes um transformador mais neste mundo.

Tenho urgentemente de descobrir o que realmente me faz sentir vivo.
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* “Who Cares”, na versão inglesa. Para além de ambas as versões terem os seus respectivos websites, também se pode aceder no facebook a páginas sobre este filme nestas duas línguas, o português e o inglês.

domingo, 13 de outubro de 2013

• Kitsault

Kitsault é uma pequena cidade fantasma. Num lugar bem remoto do oeste do Canadá, na sua província da Colúmbia Britânica, junto à fronteira com o Alaska.

Kitsault é um subproduto do capitalismo mais selvagem que se imaginar possa. E é um local com uma história que me tocou.

Esta pequena cidade nasceu em 1979, quando a sua construção terá arrancado. Era um projecto urbanístico concebido para o alojamento dos trabalhadores da Phelps Dodge, uma companhia mineira de capitais norte-americanos, que pretendia explorar uma mina de extracção de molibdénio. Um mineral matéria-prima algo valioso nas suas cotações no mercado mundial áquela altura.

Infelizmente, num curto espaço de tempo as cotações deste metal desceram significativamente. O que levou a tal companhia mineira a abandonar a exploração da mina de Kitsault.

Esta pequena cidade, idealizada para cerca de 1.200 habitantes, com um bairro de moradias razoavelmente confortáveis, um hospital, um centro comercial e um centro comunitário, todos perfeitamente recheados de equipamentos também, foi esvaziada das suas gentes em 1982. Diz-se que ao fim de simplesmente um ano e meio de vida efectiva de ocupação dos seus edifícios.

Nada do recheio destes edifícios era propriedade dos seus habitantes. Todos os pertences eram da companhia mineira, que determinou tudo deixar no local. De modo que há 30 anos que existe ali, por exemplo, um hospital perfeitamente apetrechado e apto para funcionar mas absolutamente inútil. Por não haver quaisquer utentes a que pudesse servir. Para além de lojas, um bar, uma biblioteca, uma creche, uma piscina coberta com jacuzzi, etc., etc..

Comoveu-me a princípio a história desta cidade fantasma, pela sua aparentemente pungente irracionalidade. Mas mais me comoveu saber que há alguém que sonha fazê-la renascer. E adquiriu esta cidade inteira por... 7 milhões de dólares, em 2004. Uma quantia que compraria apenas uma moradia grande e o seu terreno generoso em Portugal.

Para ver uma pequena reportagem televisiva sobre esta curiosa cidade, Kitsault, podeis clicar aqui, leitores. E para aceder ao site oficial ligado à iniciativa de transformar Kitsault numa promissora Shangri La dos nossos tempos, é mister clicar aqui.

Assim que soube desta ideia peregrina, desatei a sonhar poder fazer parte desta alegre utopia. Eu não devo ser deste planeta, mesmo… que só histórias assim é que me atraem. E então se se passarem em paragens tão longínquas e isoladas de tudo que só podem ser classificadas, para dizer o mínimo, como fins do mundo...

Ainda acabarei a viver em Kitsault, um dia destes talvez... É que estou mesmo a ver... Alguém daí para me acompanhar?... Hum?...